domingo, 10 de outubro de 2010

Sobre "Jóias de Autor" . RicardoMattar

A jóia é uma das primeiras manifestações artísticas do homem. O que levaria uma criatura da Pré-História a deixar de lado a execução de ferramentas e armas, para fazer algo sem nenhuma finalidade prática? Possivelmente o prazer de criar, de fazer algo belo e poder usá-lo.

Uma jóia de 25.000 anos pode ser vista até hoje com os olhos de uma esteta e com os olhos de um estudioso. Devido as propriedades especiais do ouro, um metal quase impossível de ser corroído, as jóias sobreviveram com freqüência onde não restou outro traço de civilização.

As mais antigas jóias conhecidas foram descobertas num túmulo perto de Mônaco. Feitas de vértebras de peixes sua idade é calculada em 25.000 anos. As primeiras jóias realizadas em ouro surgem no vale do Eufrates e têm mais ou menos 5.000 anos. No ano 3.000 a.C. o ouro já era trabalhado com extrema perícia no Oriente Médio e Oriente próximo.

Em toda a sua história a jóia sempre foi uma manifestação artística que exprimia o perfil dos homens de cada época. Grandes mestres como Dürer e Botticelli foram também joalheiros e seu lugar nas cortes e palácios era o mesmo dos artistas.

A industrialização levou a uma quebra desse processo, surgindo a jóia feita em massa, que reproduzia desenhos já feitos anteriormente e repetia modelos até à exaustão.

Sempre tive um trabalho ligado à área artística. Quando comecei a fazer jóias, em 1967, a Jóia de Arte lançada na Europa por Andrew Grima e Gilbert Albert e aqui no Brasil, por Reneé Sasson e Caio Mourão, estava associada a uma negação do processo de industrialização.

No meu trabalho procurei tentar juntar as duas coisas, a jóia como uma nova proposta, mais ou menos dentro dos conceitos da Art-Nouveau e da Bauhaus que tentaram mostrar que todos os objetos que utilizamos, mesmo os de uso mais corriqueiro devem ter um bom desenho; e devem poder ser reproduzidos industrialmente.

Em 1973, recebi um convite da De Beers (a maior empresa do mundo na comercialização de diamantes) para participar do Concurso Diamantes Hoje. Num primeiro momento encarei a proposta como um desafio. Como utilizar diamantes sem fazer uma jóia apenas comercial? Mas os próprios diamantes me deram a resposta, no momento em que eu passei a considerá-los como um prolongamento luminoso da jóia, como um ponto de luz.

Minha proposta deu certo, pois fui três vezes ganhador do concurso da De Beers.

Assim como o diamante, eu utilizo em minhas jóias vários tipos de materiais: madeira, conchas, penas. O que importa para mim é o desenho, é realizar formas novas, adequadas ao mundo de hoje, mas sem deixar de lado a magia e a fantasia, ingredientes indispensáveis ao fascinante mundo das jóias.

Tenho utilizado muito, nas minhas últimas criações, as pedras brasileiras, que são de grande beleza e tem uma enorme variedade de gamas de cor, de forma e de textura.

É uma pena que, na sua maioria, as nossas pedras ainda sejam vendidas para o exterior como matéria bruta, a ser lapidada e transformada em jóias lá fora.

Acredito que temos um enorme potencial de exportação nesta área.
Tenho vivido isto bem de perto, pois, todas as vezes que minhas jóias vão para fora do Brasil, elas não voltam...

Os processos de exportação ainda são difíceis, e mais ainda é adequar nossos produtos a certas exigências internacionais, mas, o design inovador, a leveza e a criatividade aliadas à beleza das pedras brasileiras têm sucesso garantido.

Ricardo Mattar

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